Por: Rodrigo Vicente
Por: Rodrigo Vicente
A história da comunidade de Lage dos Negros teve seu início por volta do século XIX, quando um escravizado chamado Luiz José dos Santos, conhecido como Luisinho, saiu do quilombo de Bananeiras, localizado atualmente no município de Antônio Gonçalves, em busca de um local propício para viver. Caminhando pelo sertão da Serra das Jacobinas, chegou ao povoado de São Tomé, em Campo Formoso, onde se casou e teve filhos. Seguindo sua jornada, chegou à Fazenda Espírito Santo, onde atualmente se localiza o povoado de Gameleira do Dida, e passou a trabalhar como capataz para o senhor Fagundes de Barros. Com o passar dos anos, sua família cresceu consideravelmente, e o proprietário da fazenda lhe propôs a compra de uma área de terra para que pudesse trabalhar e criar seus filhos e netos. Sem hesitar, Luiz aceitou a oferta e se estabeleceu no novo território. Observando a paisagem ao redor, notou que havia um grande lajedo de pedra às margens do riacho e, considerando que toda sua família era negra, decidiu batizar o local de Lage dos Negros. Até hoje, esse nome permanece no cotidiano da população, que se orgulha de suas raízes quilombolas, de sua identidade baiana e de sua ancestralidade africana, compartilhada com tantos outros brasileiros.
A posse dessas terras permitiu a formação de um quilombo, tornando-se um refúgio para outros negros libertos e descendentes que buscavam autonomia e melhores condições de vida. No entanto, a criação dessa comunidade gerou tensões com os fazendeiros brancos da região, que viam o assentamento como uma ameaça à estrutura social e econômica da época. Essa rivalidade se manifestou em diferentes formas de discriminação e disputas territoriais, consolidando um ambiente de resistência e luta pela posse da terra. Ao longo dos anos, Lage dos Negros se tornou um espaço de resistência cultural e de fortalecimento da identidade afrodescendente, mantendo vivas tradições herdadas dos ancestrais africanos.
Com o passar do tempo, a dinâmica fundiária da comunidade foi se transformando, impulsionada pela venda de lotes para pessoas de fora da região. Esse processo trouxe desafios significativos, pois, além da crescente fragmentação do território, muitos negócios foram realizados sem registros formais, dificultando a comprovação de propriedade e aumentando a vulnerabilidade dos moradores. A falta de titulação das terras intensificou os conflitos fundiários, resultando em disputas judiciais e tensões sociais que persistem até os dias atuais. Apesar dessas dificuldades, a identidade quilombola de Lage dos Negros segue viva, sustentada por laços comunitários e pela resistência cultural dos seus habitantes, que continuam a reivindicar o direito sobre as terras de seus antepassados.
O nome da comunidade, Lage dos Negros, foi também uma homenagem a Maria Lage, esposa de Luisinho, que teve um papel fundamental na consolidação do quilombo. Sua presença foi marcante na organização social da comunidade e na preservação das tradições culturais dos primeiros moradores. A designação "dos Negros" reforça a identidade do território como um espaço de resistência e pertencimento da população afrodescendente, que, ao longo das gerações, manteve vivas as práticas culturais, religiosas e produtivas herdadas de seus ancestrais.
Lage dos Negros vem resistindo a uma serie de precariedade, lutamos por melhores condições vida e também de uma melhor infraestrutura do povoado, uma saúde eficaz, uma verdadeira educação de inclusão e não de comparação, uma segurança igual para todos e também haja a inserção dos quilombolas no mercado de trabalho não imigratório, pois estamos cansados de assistir aos nossos jovens terem de sair de sua terra e irem em busca de “melhores condições de vida”, sabemos que isto é direito nosso, mas nem todos têm acesso a esses eles. Para nós isso parece ser utopia, um verdadeiro sonho que parece nunca ser alcançado. Estamos lutando e indo atrás de nossos ideais de igualdade para todos que aqui vivem.
O povoado é localizado a 86 km de distância da sede do município, o território quilombola de Lage dos Negros, hoje é superior a 2.900 Km² (faltando atualizar a real demarcação territorial). O acesso ao povoado é dificultoso, pois a estrada é de chão batido. A sede do território tem uma população estimada em mais de 6 mil habitantes, e todo o território conta com 23 comunidades, que juntas totalizam uma população superior a 10 mil habitantes (EBDA, 2007), deste há uma taxa de analfabetismo superior a 60% da população com faixa etária superior a 40 anos e 15% entre os jovens e adultos com faixa etária de 15 a 39 anos. A educação é disponibilizada pelo poder público municipal que atende a uma clientela que vai do ensino infantil ao ensino fundamental ficando sem acesso ao ensino médio tão pouco ao superior, no esporte e lazer não existem espaços destinados à pratica de esporte e lazer, na área da saúde a comunidade dispõem de uma unidade do PSF (Programa Saúde da Família), que atende à toda população de Lage dos Negros e Região.