Foto: Rodrigo Vicente
Os festejos de Santo Antônio em Campo Formoso, Bahia, são uma tradição centenária que reflete a profunda fé e devoção da comunidade ao santo casamenteiro e protetor dos pobres. Celebrados anualmente no mês de junho, os festejos de Santo Antônio marcam o início das festividades juninas na região e são um dos eventos religiosos e culturais mais aguardados pela população local.
A história dos festejos remonta aos primeiros colonizadores da região, que trouxeram consigo a devoção ao santo padroeiro. Desde então, a cidade de Campo Formoso mantém viva essa tradição, que ao longo dos anos ganhou novas formas de expressão, mas sempre preservando o caráter religioso e festivo.
As celebrações começam no início de junho com a tradicional trezena de Santo Antônio, um período de treze dias de oração e novenas realizadas nas igrejas e casas dos fiéis. Esse momento de oração prepara os devotos para o dia principal, 13 de junho, quando acontece a procissão em homenagem ao santo, reunindo fiéis de todas as partes do município e cidades vizinhas. A procissão, com seu cortejo solene, é seguida por missas festivas, muitas vezes celebradas ao ar livre, onde a comunidade se reúne para agradecer e fazer pedidos ao santo.
Além do caráter religioso, os festejos de Santo Antônio também são marcados por atividades culturais e sociais que movimentam a cidade. Quadrilhas juninas, forró pé de serra e barracas com comidas típicas fazem parte do cenário festivo, criando um ambiente de confraternização e alegria. O evento atrai turistas e moradores, fortalecendo o turismo local e proporcionando uma oportunidade para que as tradições juninas e religiosas da cidade sejam transmitidas de geração em geração.
Ao longo dos anos, a celebração de Santo Antônio em Campo Formoso tem se modernizado, mas sem perder suas raízes. A comunidade mantém viva a fé no santo, e a festa continua sendo um símbolo de união, devoção e celebração da cultura local.
Encontro dos Filhos da Terra
A Cavalgada Encontro dos Filhos da Terra, realizada em Lage dos Negros desde 2008, é uma das mais importantes tradições da região de Campo Formoso, Bahia. O evento acontece anualmente no sábado de Aleluia, simbolizando o encontro de cavaleiros e amazonas que, com suas montarias, celebram a cultura sertaneja. Organizada pelo grupo Espora de Prata, a cavalgada une as comunidades da região e atrai participantes de várias partes do estado, que encontram no evento uma oportunidade de reviver tradições e reforçar os laços com a terra natal.
Apesar de sua importância, a realização da cavalgada não é isenta de desafios. A organização do evento exige um esforço significativo para garantir a infraestrutura necessária, como a preparação das trilhas, o transporte de animais, e a garantia de segurança para os participantes. Além disso, o grupo Espora de Prata precisa lidar com questões logísticas e financeiras, dependendo do apoio do comércio local e regional, além da colaboração da prefeitura de Campo Formoso para garantir o sucesso da cavalgada.
Nos últimos anos, a Cavalgada Encontro dos Filhos da Terra cresceu em proporção, transformando-se em um evento grandioso que mobiliza toda a região. O número de participantes e visitantes aumenta a cada edição, tornando o evento um marco no calendário cultural de Campo Formoso. A cavalgada se destaca não apenas pela quantidade de cavaleiros, mas também pelo desfile de trajes tradicionais, as competições e as festas que acontecem após o percurso, fazendo da celebração uma experiência inesquecível para todos os envolvidos.
Além de seu caráter cultural, a cavalgada traz grandes oportunidades econômicas para Lage dos Negros e arredores. O evento gera empregos temporários, aquece o turismo e impulsiona a economia local, beneficiando desde pequenos comerciantes até grandes empresas da região. Com a chegada de turistas e participantes, o comércio local experimenta um aumento expressivo nas vendas, e o setor de hospedagem, alimentação e serviços se beneficia diretamente, consolidando o evento como um dos motores de geração de renda e movimentação econômica durante o período.
Documentário Amassa o barro: um passado presente
O documentário *Amassa o Barro* explora a rica tradição artesanal do povoado de Lage dos Negros, no sertão da Bahia, onde a prática da cerâmica representa muito mais do que uma simples atividade econômica. O filme mergulha nas histórias das mulheres artesãs que, de geração em geração, mantêm viva a arte de moldar o barro com as mãos, transformando a matéria-prima em belas peças utilitárias e decorativas. A obra revela como essa técnica ancestral é transmitida dentro das famílias, perpetuando uma herança cultural que resiste ao tempo e à modernidade.
As dificuldades enfrentadas pelas artesãs também são evidenciadas ao longo do documentário, que revela os desafios de lidar com um mercado que, muitas vezes, desvaloriza o trabalho manual e artesanal. Além disso, as condições de trabalho são muitas vezes precárias, com pouca infraestrutura e apoio financeiro, o que torna o ofício ainda mais árduo. Apesar disso, as ceramistas de Lage dos Negros mostram uma força admirável ao continuar a produzir suas peças, superando as adversidades com criatividade e resiliência.
A grandiosidade dessa tradição não está apenas no produto final, mas no processo de criação, que envolve um conhecimento profundo sobre o barro, o fogo e as técnicas de moldagem. *Amassa o Barro* destaca a beleza desse processo artesanal, desde a coleta do barro até a sua transformação em peças únicas, cada uma carregando um pedaço da história e da cultura das mulheres que a produziram. O documentário captura a essência do trabalho coletivo e da identidade cultural que permeia a vida dessas artesãs.
Por fim, o documentário também reflete sobre o potencial que a cerâmica de Lage dos Negros tem para o desenvolvimento local. Através do reconhecimento dessa arte, há a possibilidade de gerar emprego e renda para as comunidades, incentivando o turismo e a valorização do artesanato como patrimônio cultural. *Amassa o Barro* não é apenas um registro da tradição, mas também um convite à reflexão sobre como a preservação dessa cultura pode abrir portas para novas oportunidades econômicas e sociais para a região.
A história da Roda de São Gonçalo em Lage dos Negros remonta ao período colonial, quando os primeiros europeus chegaram ao Território do Salitre, região situada no atual município de Campo Formoso, na Bahia. No século XVII, os jesuítas estabeleceram a Freguesia de São Gonçalo do Salitre, um dos primeiros núcleos de evangelização da região. A influência religiosa dos missionários resultou na disseminação do culto a São Gonçalo, santo português popularmente associado à proteção dos navegantes, dos lavradores e das mulheres que desejavam casar.
Com o tempo, a devoção ao santo se enraizou na cultura local, sendo incorporada aos elementos das tradições afro-brasileiras e indígenas, formando uma manifestação singular conhecida como Roda de São Gonçalo.
A Roda de São Gonçalo é uma celebração de cunho religioso e festivo, onde fiéis dançam em formação circular ao som de cantigas tradicionais, acompanhadas de viola e percussão. O rito tem caráter de agradecimento por graças alcançadas ou como forma de pedir bênçãos e proteção divina. A dança é conduzida por um mestre, que orienta os participantes e entoa versos que evocam orações e louvores ao santo.
Os participantes utilizam vestimentas tradicionais, muitas vezes brancas, e fitas coloridas, em um ambiente de grande expressão de fé e devoção. O aspecto ritualístico da roda também está associado a uma herança cultural que mistura catolicismo popular com influências das religiões de matriz africana, criando uma manifestação única no cenário cultural do semiárido baiano.
Lage dos Negros é uma comunidade com forte presença afrodescendente e história marcada pela resistência cultural. A Roda de São Gonçalo, nessa localidade, é um exemplo de como as práticas religiosas e festivas são transmitidas de geração em geração, mantendo viva a identidade da comunidade.
Apesar da modernização e da crescente influência de novas formas de entretenimento, a população de Lage dos Negros continua a realizar a Roda de São Gonçalo como forma de reafirmação de suas raízes. A festa é um momento de encontro entre famílias, amigos e devotos, fortalecendo os laços sociais e espirituais da comunidade.
A Roda de São Gonçalo em Lage dos Negros é um verdadeiro patrimônio cultural, unindo fé, história e identidade. Sua origem, ligada à chegada dos jesuítas no século XVII, evidencia o sincretismo religioso e a riqueza das expressões culturais do povo nordestino.
Manter essa tradição viva significa preservar não apenas um rito religioso, mas também a história e os valores de uma comunidade que encontra na cultura popular uma forma de resistência e afirmação de sua identidade.
Texto: Prof. Rodrigo Vicente
Foto: SalitreCity no Instagram
O Reisado é uma das manifestações culturais mais significativas do Brasil, especialmente no Nordeste, onde tem forte influência das tradições populares e religiosas. Em Lage dos Negros, distrito de Campo Formoso, na Bahia, essa festividade ganha contornos únicos, refletindo a história e a identidade do povo local.
O Reisado tem suas raízes em tradições ibéricas trazidas pelos colonizadores portugueses, misturando-se aos elementos afro-brasileiros e indígenas ao longo do tempo. A festa celebra a visita dos Três Reis Magos ao Menino Jesus e tradicionalmente acontece entre o Natal e o Dia de Reis (6 de janeiro). No entanto, em Lage dos Negros, o Reisado não é apenas uma expressão religiosa, mas também um momento de fortalecimento comunitário e celebração da cultura negra.
Em Lage dos Negros a festividade ocorre durante todo o mês de janeiro, aos sábados e domingos e é marcada por cortejos, danças e músicas que reúnem moradores e visitantes em um verdadeiro espetáculo de cores e ritmos. Os grupos de reisado percorrem as ruas da comunidade, acompanhados de instrumentos como violão, cavaquinho, pandeiro e zabumba, entoando cantigas tradicionais que remetem à narrativa da Epifania.
Os participantes vestem roupas coloridas e adornadas, muitas vezes utilizando máscaras, chapéus ornamentados e fitas vibrantes. É comum a presença de personagens emblemáticos, como o Mestre, que lidera o grupo, e figuras folclóricas que trazem elementos lúdicos à celebração.
O Reisado em Lage dos Negros não é apenas um evento festivo; é um patrimônio imaterial que fortalece laços comunitários e preserva a memória histórica da região. Como uma comunidade de forte ascendência afro-brasileira, Lage dos Negros encontra no Reisado uma forma de reafirmação cultural e resistência, perpetuando saberes e práticas que atravessam gerações.
Apesar de sua relevância, o Reisado enfrenta desafios para sua continuidade, como a urbanização e a influência de novas formas de entretenimento. No entanto, iniciativas locais, como projetos culturais e incentivos governamentais, têm buscado valorizar e manter viva essa tradição.
Texto: Prof. Rodrigo Vicente
Foto: https://www.instagram.com/reisadodelagedos/