Pedro Anicento Celestino, conhecido carinhosamente como Pêu, nasceu em 12 de março de 1954, na comunidade quilombola de Lage dos Negros, município de Campo Formoso, Bahia. Filho de Aniceto e Clarinda, cresceu em meio à riqueza das tradições e à força do trabalho coletivo que sempre caracterizaram o povo de sua terra. Desde cedo, aprendeu o valor da solidariedade e da união, acompanhando os pais nas lidas da roça e nas atividades comunitárias que marcavam o cotidiano das famílias do sertão. Casou-se com Celina Alice, companheira de vida e de caminhada, com quem construiu uma história de amor, respeito e dedicação. Juntos, criaram oito filhos, transmitindo a cada um deles os mesmos princípios que nortearam sua existência: o amor à família, o compromisso com o trabalho e o orgulho de pertencer às raízes quilombolas de Lage dos Negros. Humilde, alegre e profundamente comprometido com a coletividade, Pêu sempre foi um homem de ação, daqueles que acreditam que o progresso nasce do esforço conjunto. Seu espírito de liderança o levou a participar ativamente das lutas e conquistas da comunidade, sendo um dos fundadores da Associação Quilombola de Lage dos Negros, uma entidade fundamental para a organização social, política e cultural do povo local. Sua atuação foi marcada por coragem e compromisso, buscando sempre garantir o reconhecimento e a valorização da identidade quilombola, bem como a melhoria das condições de vida das famílias da região.
Além de seu papel como líder comunitário, Pedro Anicente Celestino foi também um verdadeiro mestre da cultura popular, guardião das tradições e da musicalidade que dão alma a Lage dos Negros. Foi um dos responsáveis pelo resgate do antigo “Amassa Barro”, prática tradicional de mutirão que reunia vizinhos e parentes para construir casas de taipa, em um gesto de solidariedade e união que transcendia o simples ato de erguer paredes era um ritual de partilha, alegria e pertencimento. Com seu pandeiro e sua voz firme, Pêu animava as jornadas do amassa barro, transformando o trabalho coletivo em festa, em canto e em memória viva. Era também pandeirista e cantor de destaque nos reisados, nos sambas e nas festas juninas, onde sua presença era sinônimo de animação e energia. Sua música, carregada de ritmo e sentimento, narrava o cotidiano do povo, exaltava a fé e celebrava a resistência cultural do quilombo. Pêu não apenas participava das manifestações culturais ele as encarnava, fazendo de cada apresentação um ato de afirmação e alegria.
Faleceu em 17 de dezembro de 2023, deixando um vazio imenso, mas também um legado que permanece pulsando no coração da comunidade. Sua ausência é sentida em cada roda de samba, em cada batida de pandeiro, em cada festa onde o povo se reúne para celebrar a vida. Pedro Anicente Celestino, o nosso Pêu, foi mais do que um morador de Lage dos Negros foi um símbolo de identidade, resistência e cultura, um homem cuja trajetória simples e grandiosa reflete a força e a beleza do povo quilombola. Sua voz ecoa na memória coletiva como um cântico de alegria e gratidão, lembrando a todos que a cultura é a alma de um povo, e que enquanto houver quem dance, cante e trabalhe junto, Pêu continuará vivo, presente em cada som e em cada sorriso de Lage dos Negros.